sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

ONDE ESTÁ NOSSO ESTANDARTE?

Já faz algum tempo que venho me perguntando, onde está o estandarte do evangelho? Sinto dizer que quanto mais perscruto a respeito, mais chego à conclusão de que estamos distante da vontade do Eterno para conosco. A pouco, ao reler alguns artigos, deparei-me com uma verdade da qual não tinha dado conta até o presente momento. Isto serviu para revelar algo tremendo, ou seja, o Corpo de Cristo, a igreja, ao longo do tempo e da história tem se esquartejado, em diversas seitas e denominações. O artigo do qual me referi anteriormente fora escrito por Dom Robson Cavalcanti (bispo anglicano da Diocese do Recife) e com muita propriedade dizia:
Jesus Cristo criou uma só igreja, Povo da Nova Aliança, não para ser uma unidade “invisível”, metafísica, neoplatônica, mas sim visível, na história institucional. As igrejas orientais são anteriores a igreja de Roma e nunca foram subordinadas a ela por jurisdição, muito menos por autoridade monárquica. (...) Depois dela (Reforma), a Igreja de Roma oficializou novos dogmas, e, juntamente com os bizantinos, canonizaram novos “santos”. Trocou-se o livre exame pela livre interpretação e a Igreja deu lugar a seitas e “denominações”. O liberalismo mandou para o espaço as escrituras, a tradição, os credos, as doutrinas e a moral, sacrificados no altar da razão e na arrogância humana, hoje subjetiva, individualista e relativista. “Revelações” particulares e “profetas” auto-proclamados esquartejam o Corpo de Cristo. Depois da Reforma sofremos o banho de sangue das Inquisições e a intolerância legalista, moralista, sectária, antiintelectual (e as vezes, racista) do neofundamentalismo. Surgiram as seitas para-cristãs dos Mórmons, das Testemunhas de Jeová e da Ciência Cristã, bem como o neo/pós/isso/pseudo-pentecostalismo, cuja pretensa identidade protestante é uma contradição em si mesma. (...) Hoje, entre o neo-integrismo reacionário dos corpos não-reformados e o cipoal fragmentado dos corpos deformados – incapazes de dar uma resposta ao Estado e a ideologia secularista –, alma sedentas clamam por uma igreja de dois mil anos. (...) O futuro depende de um presente que retome o passado (...).
Creio haver uma querência apropriada em suas palavras com um forte tom de urgência. Com isso vejo que temos no decorrer da história do cristianismo erguido o pendão de denominações, e não o do único e verdadeiro evangelho, evadindo assim, da unidade do Corpo. Essa atitude apenas tem nos dividido, e isto a gerações. Outrossim, tenho visto meus contemporâneos irmãos em Cristo, agir de forma ainda mais relapsa, destoando-se cada vez mais da unidade do corpo do Senhor Jesus, bem como da proclamação do seu estandarte, o evangelho da verdade. Destarte, o que vemos hoje é um distanciamento dos dogmas e doutrinas do genuíno evangelho, que é o emblema mor do cristianismo. Ao olhar para trás, vejo que esta balbúrdia, não é privilégio desta geração corrompida e deturpada, isto vem de longe. Entretanto, poucos são os que nestes dias se levantam em defesa do evangelho autêntico. Posso dizer que são vozes isoladas e que clamam sós por um retorno inadiável as Escrituras e a seu genuíno emblema.O testemunho cristão parece desvanecer em meio ao glamour dos erros passados. Conta-se mais estórias do velho homem, que a manifestação do poder redentor e restaurador do altíssimo. Não é isso que vejo desenrolar nas linhas da Sagrada Escritura, ao relatar o testemunho de Pedro, após receber do alto o poder do Espírito de Deus (At 2:14; 3:12; 4:8, 33). Promessa esta feita pelo próprio Deus a muitos por intermédio dos profetas Ezequiel, Isaías e mais bem entendida em Joel (Jl 2:28) no AT, ratificada por João Batista no NT (Mc 1:7; Mt 3:11) e confirmada pelo Senhor Jesus em Atos 1:8. Este testemunho pela capacitação do poder do Espírito, gerou um autentico sermão cristocêntrico de Pedro. Não o vemos contar relatos de sua vida passada, porém de sua nova vida e principalmente de fatos cujo cerne é unicamente Cristo. O livro de Atos, ainda nos relata que os apóstolos obedeceram à ordem diligente de Jesus para testemunhar, e podemos ver que no cap 3.1 ao 8.1, o evangelho se espalha a Jerusalém, desde a ida de Pedro e João ao templo até a primeira perseguição da igreja; do cap 8.1 ao 12.25, o evangelho chega à Judéia e Samaria, o quando Saulo persegue a Igreja e todos, exceto os apóstolos, vão para lá; e finalmente do cap 13.1 ao 28.31, evangelho chega aos confins da terra através das viagens missionárias, sobre tudo do agora, Apóstolo Paulo.
Nossa geração parece não compreender o poder que Deus derramou sobre nossa vida. Pois o que temos visto e ouvido, não passam de apresentações que exaltam o domínio de Satanás sobre a velha criatura. Hoje, não presenciamos a marcha da igreja avante, e a falta de conversão e do discipulado tem denunciado o quão apática está a igreja. Com isso, tenho visto minha Santa geração ser levada ao descrédito total diante do mundo. Isto provem tanto do testemunho descaracterizado, quanto da proclamação deturpada do evangelho ante a interpretação errada da mensagem de Cristo, destoando assim, para extremos desordenados, que infelizmente tem sido largamente aceito em nosso meio.
O mundo tem olhado para nós evangélicos e nos tem colocado em um mesmo patamar. E o que mais ouço é: “Eles são tudo farinha do mesmo saco”. Esta expressão parece não incomodar a muitos, tal a falta de brio. Todavia, tem ressoado no âmago de minh’alma como uma blasfêmia que estamos aceitando calados, inertes ante a este rótulo infame. Agora realmente entendo como Davi sentiu-se insultado por Golias. Ao aceitarmos isto como verdade, desprezamos o poder remidor, justificador e santificador do sangue de Cristo que nos distingue como santos, isto é, separados por Deus para manifestar sua Luz e glorificar seu augusto nome. Somos diferentes, e não iguais. Não há como esconder uma cidade edificada sobre o mente, da qual ao anoitecer, revela sua luz e por todos é vista (Mt 5:14). Percebo que esta luz tem se desvanecido em meio à inclusão de lentes nada perspicaz. Tão turvas que embaçam o brilho, não nos permitindo enxergar o estreito caminho que nos foi proposto trilhar.
A teologia da prosperidade tem sido uma destas lentes ofuscantes, em outras palavras, um joio que nasce em meio ao puro trigo, fazendo da bíblia um livro de auto-ajuda com distorções do tipo, “você nasceu para ser cabeça e não cauda”; “dêem, e lhes será dado”, com conotações plenamente materialistas, mercantilistas e altamente egocêntricas. Trazendo a perspectiva, de que quanto mais eu dou e quanto mais fiel ao dízimo, mais Deus me dará, podendo eu exigir o ápice da circunstância. Impulsionando o indivíduo a almejar o bem estar físico, e o melhor desta terra incondicionalmente. Quando Jesus nos leva justamente na contramão deste pensamento torpe, quando nos diz: “não acumulem para vocês tesouros na terra (...). Mas acumulem para vocês tesouros nos céus (...), pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mt 6:19-21). Certa feita, acertadamente foi dito pelo Professor da Faculdade Teológica Latino-Americana de Londrina, Jorge Barros: “O que menos precisamos hoje é de teologia da prosperidade; e o que mais precisamos é a prosperidade da teologia”.
De igual modo, a teologia liberal tem maculado a natureza do evangelho, a ponto de nos levar ao total descrédito perante a sociedade, com palavras frívolas e conceitos apáticos à realidade inerente dos milagres sobrenaturais e autênticos registrados nas Escrituras Sagradas. Estes ceticismos têm levado muitos a perdição eterna. Já fora dito antes, com grande lamento que até nossos seminários tem se enraizado desta erva daninha.
O que dizer da profanação do sagrado e a banalização das doutrinas Teocêntricas, juntamente com a extinção da exposição bíblica, dos credos da igreja, da liturgia equilibrada e sadia, da violação da ética e da moral que norteiam os princípios cristão causados pela falta do ensino e pregação genuína da Palavra em nossos púlpitos. Por estes e outros motivos é que o mundo tem nos julgados todos iguais. Entretanto quero bradar com veemência para minha gente, meus irmãos, que isso não é verdade! Não somos todos iguais. Porém, não culpo o mundo de pensarem assim de nós, pois afinal, quem é que tem se levantado a fim de testemunhar em defesa do genuíno evangelho? A pergunta que fica é, porque nos calamos? Porque abafamos a luz de Cristo? Porque tentamos escondê-la? Não somos nós os detentores da verdade? Temo que seja por medo de sofrer perseguição! Contudo, sei que isso seria difícil, porém honroso e sobretudo glorioso (Rm 8:36,37).O poder de Deus derramado em nós foi unicamente com o fim de nos capacitar a testemunhar ao mundo das verdades de Deus. Essa é nossa missão, e ela começou em Jerusalém, estendendo-se até nós. Precisamos testemunhar, fomos chamados para isso. Pedro ao escrever sua primeira carta disse no capítulo 2, verso 9: “Mas vós sois a geração eleita o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido (de propriedade exclusiva de Deus), para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. E ele inicia este capítulo dizendo: “Tirem de suas vidas, toda maldade e dolo, hipocrisias e invejas...”
Deus deseja que iniciemos a missão de testemunhar que somos diferentes, regenerados, nova criatura em Cristo Jesus, erguendo novamente bem alto o estandarte do evangelho para que fique evidente a esta geração e todo o mundo saiba que não somos todos iguais. Existe um Deus, que é a nossa Bandeira (Ex 17:15). Precisamos nos levantar em defesa do evangelho, não de nossa denominação, esquartejando ainda mais o corpo, do qual Cristo é o cabeça, mas do verdadeiro evangelho que a nós foi confiado.
O mundo olha para nós e nos vê todos iguais, pelo fato de que se tem usado o poder, a capacitação, a virtude do Espírito Santo para testemunhar um falso evangelho. Um “outro evangelho” cheio de formulas e facilidades:

· Façam a campanha de Moisés, de Arão, de Josué e você será um vencedor;
· Para ver a Igreja crescer, divida em Grupos de doze (12);
· Tragam seus problemas para serem queimados na fogueira santa e assim eles desaparecerão;
· Bebam do copo d’água energisado, que está em cima da televisão e você será curado;
· Venha para a sessão de descarrego e saia aliviado.

Quando na verdade a palavra de Deus, não nos mostra nenhuma fórmula, e sim o próprio Jesus dizendo, quer alívio para sua vida, “vinde a mim e Eu vos aliviarei” (Mt 11:28). Estão testemunhando de um evangelho de facilidades, e muitos estão migrando para esse triunfalismo barato, sendo enganados por um evangelho distorcido, e Paulo já advertia aos amados irmãos da Galácia (Gl 1:6-9): “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.” E o que dizer do diligente esforço de Judas ao escrever os versos 3 e 4, dizendo: “Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.”
Vejo que é hora de nossa geração levantar e cumprir a missão que nos foi confiada por Cristo. Onde estão estes? Quero convocar você que faz parte desta geração a se apropriar deste poder que foi derramado em nós com o fim de testemunharmos em defesa do genuíno evangelho de Jesus e mostrar que não somos todos iguais. Ainda há uma luz em meio a toda essa densa nuvem de trevas e dissoluções. Precisamos irradiar o brilho das verdades de Deus, pois esta é nossa missão, afinal já fomos capacitados por Ele. É preciso então, despertarmos do sono, como diz o apóstolo Paulo em Romanos 13:11.
Pois no ultimo dia, no juízo final, sabemos que o cordeiro de Deus irá separar as ovelhas dos bodes, e muitos dirão: “Senhor, em seu nome profetizamos, em seu nome expulsamos demônios, em seu nome curamos, em seu nome fizemos obras miraculosas”. Porém Ele lhes responderá: “Apartai-vos de mim malditos, vós que praticais a iniqüidade, para o fogo eterno” (Mt 25:41; Lc 13:27).
A responsabilidade é nossa. E o que nós temos feito? Deus nos chama a uma missão, e esta é indubitavelmente a de proclamarmos “as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Ele já nos capacitou com o poder do seu Santo Espírito. Todavia, o que temos feito a respeito? O que iremos apresentar ao Altíssimo, no grande dia? Digo que precisamos nos apressar em servi-lo com excelência, e apresentar-se perante Ele santos e irrepreensíveis (Ef 1:3b). Proclamemos então o genuíno, puro e simples evangelho, que é o poder de Deus para a salvação daquele que crê (Rm 1:16; I Co 1:18).
Termino citando as palavras de meu Professor, Pastor e Amigo, Pr. Leônidas Prudêncio de Lemos (IEC em Vista Alegre, SG), quando muito bem se expressou declarando que “a benção do verdadeiro evangelho é SER de Deus e não TER de Deus” (Mt 5:1-12; 6:31-34). Levantemos a tempo o estandarte, sim, o pendão real do Mestre.

Reflita nisto...
“Deste um estandarte aos que te temem, para o arvorarem no alto, por causa da verdade.” (Sl 60:4)
Um pendão real vos entregou o ReiA vós, soldados Seus;Corajosos, pois, em tudo o defendei,Marchando para os céus.
Com valor! Sem temor!Por Cristo prontos a sofrer!Bem alto erguei o Seu pendão,Firmes sempre, até morrer!
Eis formados já os densos batalhõesDo grande usurpador!Declarei-vos, hoje, bravos campeões;Avante sem temor.
Quem receio sente no seu coração,E fraco se mostrar,Não receberá o eterno galardão,Que Cristo tem pra dar.
Pois sejamos, todos, a Jesus leais,E a Seu real pendão;Os que na batalha sempre são fiéis,Com Ele reinarão.
Letra : Daniel Webster Whittle, 1885
Música: James McGranahan
Tradução: H.M.W.
Carlos Eduardo dos Santos Azevedo, Bacharel em Teologia pelo SETECERJ Alcântara e membro da IEC em Marambaia.

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